sábado, 30 de novembro de 2013

O cinema expressão da nossa Humanidade


A 30 de Novembro de 1913, em "Making a living", nascia como actor para todos nós, o génio de um homem que foi também um dos grandes cineastas e que envolveria os dias de uma magia única. Entre o desamparo dos gestos, a solidão, mas também a  ternura, a esperança em encontros feitos de cumplicidade. Em Abril voltaremos a este homem, que é um ícone do cinema e da sociedade contemporânea. Deixamos um excerto de "O Grande Ditador", de um tempo contínuo onde as nossas características pré-históricas parecem ser maiores que o valor das ideias que soubemos edificar em palcos vazios de dignidade. 



Mark Twain ou um olhar sobre a infância

A infância como território desconhecido, um tempo imerso numa forma concreta de olhar os dias é sempre um mistério e cada sociedade projetou uma forma diferente de o construir. A ideia de sociedade que vamos tendo é muito o que como comunidade se organiza em redor do tempo das crianças. A memória das sociedades é também essa construção.

Mark Twain, nasceu a 20 de Novembro de 1835, na Florida e é o pseudónimo para Samuel Langhorne Clemens, um dos "pais" do romance americano pelas questões que colocou nas suas obras e pelas temáticas narrativas, com que enquadrou os tempos quaotidianos das suas personagens. As aventuras de Tom Sawyer, ou As Aventuras de Huckleberry Finn dão-nos os tempos de uma infância feita de descobertas, de contato com a natureza num mundo onde a escola parecia uma "prisão" para essa "ideia" de liberdade. 

Escritor de grande sucesso, dedicou-se também às sátiras, grande viajante e um curioso pela ciência e tecnologia, teve uma presença assídua junto de figuras marcantes da sociedade americana. Mark Twain  deixou-nos em As Aventuras de Huckleberry Finn,uma obra que alguém já considerou como o melhor livro de infância, por essa procura pelo tampo mágico do espanto no olhar, pela descoberta de aventuras constantes, onde o individual se assume como forma diferente de enquadrar o social.

As pessoas de Pessoa

"Ainda assim, sou alguém.
Sou o Descobridor da Natureza (...)
Trago ao Universo um novo Universo
Porque trago ao Universo ele-próprio." (1)

Nunca haverá palavras suficientes para mergulharmos nos seus universos e nas possibilidades que nos fez de uma particular uma dimensão universal. A sua biografia, é só uma impressão, um gesto de uma genialidade complexa, universal e original nas formas e muito rica de ideias. 

Inventou a literatura, pois deu sentidos novos às emoções e ao seu significado. Com elas aprendemos a distinguir a palavra, a dúvida e o sonho. Inventou num mar de aparente solidão, uma nova forma de apresentar o que é o mundo, as suas múltiplas identidades., desenhando ideias de futuro construindo uma língua nova.

Ele somos todos nós. Aqueles que ele inventou nos quotidianos onde tantos seres particulares ganham a sua originalidade, a sua universal humanidade. Se há poeta, se há escritor, se há literatura ele é tudo isso. É a demonstração que um país é a sua cultura, a sua língua, as suas pessoas, a sua individualidade...

É o nosso maior poeta, o filósofo das partidas esquecidas e dos sonhos de conquista do infinito universo. Chama-se Fernando Pessoa, andou por aqui durante os milénios dos seus sonhos e faz hoje setenta e oito anos que adormeceu. Continua a incomodar o real tão feito de aparentes compromissos de verdade e imaginação.
(1) Alberto Caeiro, "XLVI", Poesias - Heterónimos

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Memória de Erico Veríssimo

Só agora Amaro acredita que a Primavera chegou: de sua janela vê Clarissa a brincar sob os pessegueiros floridos. As glicínias roxas espiam por cima do muro que separa o pátio da casa vizinha. O menino doente está na sua cadeira de rodas; o sol lhe ilumina o rosto pálido, atirando-lhe sobre os cabelos um polvilho de ouro. Um avião cruza o céu, roncando - asas coruscantes contra o azul nítido.

Amaro sente no rosto a carícia leve do vento. Infla as narinas e sorve o ar luminoso da manhã. Não há dúvida: a Primavera chegou. Os pessegueiros estão floridos, as glicínias se debruçam sobre o muro, o menino doente já mostra no rosto magro  sombra de um sorriso.

- Lindo! - exclama Amaro interiormente.
E se tentasse exprimir em música o momento milagroso? Quem sabe? Clarissa ainda corre sob as árvores. Grita, sacode a cabeleira negra, agita os braços, pára, olha, ri, torna a correr, perseguindo agora uma borboleta amarela. Longe, lampeja um pedaço do rio. Mais longe ainda, a sombra azulada dos morros. E por cima de tudo, a porcelana pura do céu.

Erico Veríssimo, Clarissa, págs. 5-6

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Livro da semana - A minha primeira Sophia

Título: A minha primeira Sophia
Autor: Fernando Pinto do Amaral
Edição: 1ª
Páginas: ...
Editor: D. Quixote

ISBN: ...
CDU: 82-93


Livro de uma beleza imensa, das ilustrações de Fernanda Fragateiro à simplicidade da escrita de Fernando Pinto do Amaral que conseguiu transmitir para os mais pequenos o universo de encanto de Sophia, num livro que é ao mesmo tempo uma biografia da sua vida e da sua obra.

domingo, 24 de novembro de 2013

Rómulo de Carvalho por António Gedeão

Eu queria que o amor estivesse realmente no
[ coração,
e também a Bondade,
e a Sinceridade,
e tudo, e tudo o mais, tudo estivesse realmente no
[coração.
Então poderia dizer-vos:
"Meus amados irmãs,
falo-vos do coração",
ou então:
"com o coração nas mãos."

Mas o meu coração é como o dos compêndios.
Tem duas válvulas (a tricúspida e a mitral)
e os seus compartimentos (duas aurículas e dois
[ventrículos).
O sangue ao circular contrai-os e distende-os
segundo a obrigação das leis dos movimentos.

Por vezes acontece
ver-se um homem, sem querer, som os lábios
[apertados.
e uma lâmina baça e agreste, que endurece
a luz dos olhos em bisel cortados.

Parece então que o coração estremece.
Mas não.
Sabe-se, e muito bem, com fundamento prático,
que esse vento que sopra e que ateia os incêndios,
é coisa do simpático.
Vem tudo nos compêndios.

Então, meninos!
Vamos à lição!
Em quantas partes se divide o coração?

António Gedeão, "Poema do Coração", in Poemas Escolhidos

Para Rómulo de Carvalho

A vinte e quatro de Novembro celebra-se o Dia Nacional da Cultura Científica, que é na verdade uma homenagem a uma das grandes figuras do pensamento deste País, mas também da cultura universal. A sua simplicidade sorriria perante a audição destes atributos, mas o professor era e é uma figura inesquecível.

Professor de Física e Química adoptou o pseudónimo literário de António Gedeão, com o qual exprimiu a beleza das palavras com a mesma intenção comunicativa com que misturava os sais e as bases. Humanista de profissão explicou-nos o que Newton e outros já tinham ensaiado. A saber, não há nenhuma contradição entre a poesia e a ciência. Afinal não são as duas, formas diversas, mas possíveis de medir e interpretar o mundo que nos rodeia, com simplicidade e assombro? 

Em homenagem a Rómulo de Carvalho alguns das suas palavras no dia  de incentivo à cultura científica.

Um Poema Para Galileu

«Estou olhando o teu retrato, meu velho pisano,
aquele teu retrato que toda a gente conhece,
em que a tua bela cabeça desabrocha e floresce
sobre um modesto cabeção de pano.
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da tua velha Florença.
(Não, não Galileu! Eu não disse Santo Ofício.
Disse Galeria dos Ofícios).
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da requintada Florença.
Lembras-te? A ponte Vecchio,a Loggia, a Piazza della Signoria.
Eu sei... Eu sei...
A margem doce do Arno às horas pardas da melancolia.
Ai que saudades, Galileu Galilei!
(...)
Eu queria agradecer-te, Galileu,
a inteligência das coisas que me deste.
Eu,
e quantos milhões de homens como eu
a quem tu esclareceste (...)
Teus olhos habituados à observação dos satélites e
das estrelas,
desceram lá das alturas
e poisaram como aves aturdidas (...)
nas faces grávidas daquelas reverendíssimas criaturas.
E tu foste dizendo a tudo que sim, que sim senhor, (...)
que o Sol era quadrado e a Lua pentagonal
e que os astros bailavam e entoavam
à meia-noite louvores à harmonia universal.
(...)
Tu é que sabias, Galileu Galilei.
Por isso eram teus olhos misericordiosos,
por isso era teu coração cheio de piedade,
piedade pelos homens que não precisam de sofrer
homens ditosos
a quem Deus dispensou de buscar a verdade.


Por isso, estoicamente,mansamente,
resististe a todas as torturas,
a todas as angústias, a todos os contratempos,
enquanto eles, do alto inacessível das suas alturas,
foram caindo,
caindo,
caindo,
caindo,
caindo sempre,
e sempre,
ininterruptamente,
na razão directa dos quadrados dos tempos.»
 António Gedeão, Obra Completa
Imagem, in pordentrodaciencia.blogspot.com

sábado, 23 de novembro de 2013

No nascimento de Herberto Helder


Súmula

«Sei que os campos imaginam as suas
próprias rosas.
As pessoas imaginam os seus próprios campos de rosas. E às vezes estou na frente dos campos
como se morresse;
outras, como se agora somente
eu pudesse acordar.
(...)
Ter amoras, folhas verdes, espinhos
com pequena treva por todos os cantos.
Nome do espírito como uma rosapeixe.
(...)
Sou uma devastação inteligente.
Com malmequeres fabulosos.
Ouro por cima.
A madrugada ou a noite triste tocadas
em trompete. Sou
alguma coisa audível, sensível.
Um movimento.
Cadeira congeminando-se na bacia,
feita o sentar-se.
Ou flores bebendo a jarra.
O silêncio estrutural das flores.
E a mesa por baixo.
A sonhar».

Herberto Helder, in Ou o Poema Contínuo, Assírio & Alvim
 Imagem - ©Thomas Ljungberg - (via http://1x.com/)

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Convenção dos Direitos da Criança

 
Assinalam-se hoje os vinte e quatro anos da Convenção dos Direitos da Criança. Com ela a quase totalidade dos Países procurou melhorar as condições de vida das crianças. Os progressos nos últimos anos têm sido notáveis. Todavia o quadro ainda é trágico. 

 Existem milhões de crianças sem acesso a serviços essenciais à sua sobrevivência e desenvolvimento. A subnutrição, as doenças, a falta de alfabetização, a ausência de um registo, a violência, o trabalho infantil e a guerra expõem ainda milhões de crianças a uma vida carente de dignidade. 

 É contra esta realidade trágica que a UNICEF e diversas organizações de apoio à criança têm tentado apoiar a concretização das ideias da Convenção dos Direitos da Criança. Convenção que está organizada em diferentes artigos, suportados em princípios tão naturais como o direito à vida, o desenvolvimento humano, a não discriminação e o respeito pelo valor individual da vida de cada um. 

 A contínua evolução das condições em que vivem as crianças dependem de projectos governamentais, mas também da vontade e solidariedade individuais. É sobretudo a nível local que as mudanças podem ser mais eficazes. Os projectos desenvolvidos na Índia ou no Paquistão mostram que os cuidados da saúde básicos, a dignidade individual e a escolarização são factores de desenvolvimento das sociedades.

Imagem, in Quino, O Mundo de Mafalda, Bertrand

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Leituras...

«Sophia continuou sempre a escrever histórias para crianças, mas também poemas e contos para adultos. Para ela, o mais importante era que as pessoas - tanto as crianças como as mais crescidas - soubessem ser justas e distinguissem o bem e o mal. Por isso, em tudo o que fazia procurava sempre combater a injustiça e a maldade de que alguns seres humanos infelizmente são capazes. (...)

Sophia sempre soube que o professor Cláudio tinha razão. Por isso nos deixou histórias tão encantadoras e belos poemas que guardamos na memória. Mas o seu reino não era apenas o da fantasia. Era uma mulher interessada pelo mundo que a rodeava e gostava muito de viajar. De todos os países, o que mais lhe agradava era a Grécia, porque admirava a cultura grega e a paisagem do mar Mediterrâneo, com as suas ilhas cheias de história.

Até ao fim da sua vida, Sophia continuou sempre a escrever, rodeada pela sua grande família, com netos que adoravam aquela avó um pouco distraída e cheia de histórias para lhes contar. Recebeu muitos prémios, condecorações e homenagens pelas obras que escreveu, mas ela não ligava a essas coisas. O que lhe dava mais prazer era a alegria que brilhava nos olhos das crianças quando abriam os seus livros e se encantavam com a magia das suas palavras.


Sophia morreu no dia 2 de Julho de 2004, aos oitenta e quatro anos, mas continua viva para todos os que lêem as suas histórias e os seus poemas. E sempre foi fiel à frase do seu bisavô dinamarquês:[ " A minha casa é o caminho do mar"]».
A Minha Primeira Sophia
Fernando Pinto do Amaral, Fernanda Fragateiro (ilustrações)

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Livro da semana - As aventuras de Alice no País das MAravilhas

Título: Alice no País das Maravilhas
Autor: Lewis Carroll
Edição: s.d.
Páginas: 152
Editor: Bertrand
ISBN:
978-972-2521-17-8
CDU: 82-93
Alice no País das Maravilhas é uma narrativa intemporal. Não é exagerado dizer que nele Lewis Carroll conseguiu transmitir-nos o seu fascínio pela infância, por essa delicadeza, por onde o valor das crianças na sociedade começava a ser reconhecido com mais significado. 

Alice é o resumo essencial de um tempo mágico, quando ainda crianças, sem a noção do tempo, e por isso sem as limitações da finitude, podíamos considerar todas as  possibilidades, todas as aventuras no real. Alice viaja por um tempo de fantasia, olhando para o que ama, procurando dias felizes e limpos, cheios de descobertas.

Não há outra personagem como Alice, no mundo infantil. A sua criação por Lewis Carroll é um ponto de eternidade num País onde vivemos um dia e ao qual podemos voltar com imensas dificuldades. Pois as figuras que habitam com Alice não voltam, permanecem num território único e maravilhoso, o País das Maravilhas. A Ilustração ao longo de diferentes épocas quis dar a sua interpretação de Alice. Aqui deixamos algumas.

Ilustrações de (Charles Folkard, 1929) e de (Abelardo Morell, 1999)

sábado, 16 de novembro de 2013

Ilustração - A Árvore Generosa

Cristina Wang / Maurício / Catarina Sardinha (3ºD)

O menino chegou ao pé da árvore e disse-lhe:
- Preciso de um barco!
A árvore disse-lhe então:
- Se te der a árvore vou morrer.. Então o menino disse-lhe:
- Mas eu não quero que tu morras!
_ Então não te posso dar o barco!


Leitura e ilustração  do Conto A Árvore Generosa de Shel Silverstein 
  EB1 (São Miguel - Profª Isabel Baptista)

Amanhecer...


FLORES

Era preciso agradecer às flores
Terrem guardado em si,
Límpida e pura,
Aquela promessa antiga
Duma manhã futura


SophiaNo Tempo Dividido
Imagem, in A minha primeira Sophia, Iilustração de Fernanda Fragateiro

A Árvore Generosa - Ilustração

 Santiago / Vasco Cruz / ...

O menino chegou ao pé da árvore e disse-lhe:
- Preciso de um barco!
Então a a árvore disse: - corta o meu tronco e serás feliz!
A árvore disse isto porque amava o menino e queria que ele fosse feliz!


Leitura e ilustração  do Conto A Árvore Generosa de Shel Silverstein - 
EB1 (São Miguel - Profª Sandra Bellmarce)

A Árvore Generosa - Ilustração

 Catarina Araújo / Pedro Reis / Maria Ferreira (3ºB)

O menino chegou ao pé da árvore e disse-lhe:
- Preciso de um barco!
A árvore disse que não tinha um barco. - Toma o meu tronco e faz um barco e sê feliz!
E o menino foi fazer o barco, mas a árvore ficou triste outra vez. A árvore sobreviveu porque tinha ainda a sua raiz.


Leitura e ilustração  do Conto A Árvore Generosa de Shel Silverstein -  
EB1 (São Miguel - Profª Sandra Bellmarce)

Celebrar as palavras

«Não me peçam razões, que as não tenho,
Ou darei quantas queiram: bem sabemos
Que razões são palavras, todas nascem
Da mansa hipocrisia que aprendemos.


Não me peçam razões por que se entenda
A força da maré que me enche o peito,
Este estar mal no mundo e nesta lei:
Não fiz a lei e o mundo não o aceito.

Não me peçam razões, ou que as desculpe;
Deste modo de amar e destruir:
Quando a noite é de mais é que amanhece
A cor da Primavera que há-de vir
.» (1)


«(...) Levantamos um punhado de terra e apertemo-la nas mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno,
a vontade e os limites.


Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o
sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do
mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos
ossos dela.


Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres
como a água, a pedra e a raíz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.» (2)


(1) José Saramago, «Não me peçam razões» ,in Os Poemas Possíveis
(2) José Saramago, Na ilha por vezes habitada, in Provavelmente Alegria

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

O mar de Sophia

Iremos juntos sozinhos pela areia
Embalados no dia
Colhendo as algas roxas e os corais
Que na praia deixou a maré cheia.

As palavras que disseres e que eu disser
Serão somente as palavras que há nas coisas
Virás comigo desumanamente
Como vêm as ondas com o vento.

O belo dia liso como um linho
Interminável sem um defeito
Cheio de imagens e de conhecimento.
                                      
                                        SophiaNo Tempo Divido, Obra Poética

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Amadeo e o modernismo


Amadeo de Souza-Cardoso foi um dos maiores expoentes da arte e da cultura portuguesa do século XX. Não estando integrado em nenhuma escola de arte, descobriu por si o significado do tempo que viveu e sentimos nele o movimento modernista, que conhecemos com Fernando Pessoa, mas também as fronteiras que Picasso explorava com o cubismo.

Amadeo nasceu em Amarante, a 14 de Novembro de 1887. Estudou Belas Artes, em Lisboa e partir de 1906 está em Paris para dar continuidade aos seus estudos. Escolheu o desenho e a pintura como forma de expressão artística.  O contacto com figuras importantes em Paris irá dar-lhe a possibilidade de se tornar uma referência em diferentes exposições internacionais.

Amadeo irá reconstruir uma forma nova de olhar  a pintura. Pelo estudo da cor, pela construção geométrica diversa, na qual redifine as ideias das formas e das perspectivas. Amadeo integrou as vanguardas europeias na arte, tendo tido na época em Portugal um sucesso limitado. O campo das ideias e da cultura não lhe foi favorável e teve poucos apoios públicos. É uma das grandes figuras da História Contemporânea que importa redescobrir continuadamente pelo valor plástico e de pensamento novo que criou.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Sophia ou a poesia em si

"Pois a poesia é a minha explicação com o universo, a minha convivência com as coisas, a minha participação no real, o meu encontro com as vozes e as imagens. Por isso o poema fala não de uma vida ideal mas sim de uma vida concreta: ângulo da janela, ressonância das ruas, das cidades e dos quartos, sombra dos muros, aparição dos rostos, silêncio, distância e brilho das estrelas, respiração da noite, perfume de tília e do orégão."

Sophia, "Arte Poética II", in Obra Poética III, pág. 95

Livro da semana - A mecânica do coração

Título: A mecânica do coração
Autor: Mathias Malzieu
Edição: 1ª
Páginas: ...
Editor: Contraponto
ISBN: ...
CDU: 82-93

"Com a aponta dos teus ramos chegarás à abóbada celeste e sacudirás o tronco invisível que sustém a lua, fazendo cair sonhos novos a nossos pés como flocos de neve tépida."

É um livro raro. Uma prenda oferecida à imaginação, um conto de fadas onde todos, jovens e adultos podem descobrir em linhas de poesia o encanto e o deslumbramento. É um livro que nos conta a história de Jack. Um menino que nasce no dia mais frio de sempre e para poder viver recebe um relógio de madeira que é colocado no seu peito para ajudar a funcionar o seu coração. Jack sobrevive, mas o seu coração não sobreviverá às emoções mais fortes. O amor não lhe é recomendado, é mesmo um perigo, a maior das imprudências. Viverá ele então uma vida tranquila, isenta de perigo, cuidando do seu coração de madeira?

Jack conhece uma pequena cantora de rua e o seu coração, o verdadeiro e o mecânico ficam deslumbrados. E ele não resiste. Viverá entre o sonho e a realidade, a imaginação e o quotidiano onde conhecerá a beleza, o encanto, mas também a crueldade do amor. É um livro lindo, único, onde revivemos a magia de nós próprios, esse País da Fantasia onde se mistutram sonhos e realidade. A Mecânica do Coração é uma abordagem imaginativa, fascinante a esse universo tantas vezes esquecido, mas que permite transcender a própria vida.

Mecânica do Coração é uma aproximação para os adultos, a uma reconquista intemporal no sentido que Lewis Caroll fez para os mais jovens, em Alice nos País das Maravilhas. Um outro lado do espelho onde revivemos em personagens tão distantes e próximas, como Artur, Anna ou Luna a existência humana coberta pela ternura do sonho impossível. 
Um livro a descobrir, a ler e a partilhar. Um livro para nos embalar e reconfortar «como uma lareira numa noite de Inverno», nas próprias palavras de Jack.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Do País dos castanheiros

(...) Vinde, porque é de mosto
O sorriso dos deuses e dos povos
Quando a verdade lhes deslumbra o rosto.

Houve Olimpos onde houve mar e montes.
Onde a flor da amargura deu perfume.
Onde a concha da mão tirou das fontes
Uma frescura que sabia a lume.

Vinde, amados senhores da juventude!
Tendes aqui o louro da virtude,
A Oliveira da paz e o lírio agreste...

E carvalhos, e velhos castanheiros,
A cuja sombra um dormitar celeste
Pode tornar os sonhos verdadeiros.

Miguel Torga, «Libertação»

domingo, 10 de novembro de 2013

Memória de Mário Viegas

Poema de António Gedeão dedicado a Galileu, sobre essa capacidade, essa "inteligência de compreender as coisas", dito por Mário Viegas.

Rua Sésamo

Foi criada há quarenta e quatro anos e deu um grande contributo para a valorização da educação informal. As suas personagens, os motivos, os diálogos, os cenários, as palavras revelavam a preocupação com a construção do mundo com valor pelas crianças de uma forma muito particular.

 Seria possível hoje a ideia da criação de uma série como a A Rua Sésamo e a sua adaptação a outras latitudes, como a portuguesa? 

A nossa crise moral também está aqui, na falta de visão que suprime tudo o que não tem valor funcional de mercado. Fica-nos a memória e a certeza de que o modernismo de alguns é feito de inexplicáveis retrocessos. 

sábado, 9 de novembro de 2013

O muro de Berlim

(Foi há vinte e quatro anos. Por ele lutaram, viveram e morreram gerações de homens e mulheres que acreditavam na liberdade individual como forma e expressão do desenvolvimento humano e como este é inseparável de uma igualdade cultural e social.

É hoje quase um vestígio do que foi a História da Europa e do Mundo, mas é ainda uma lição para os que se esquecem de como os movimentos sociais são desenvolvidos e alimentados pelos sonhos individuais.

Uma lembrança para uma Europa em decadência acelerada das instituições, onde o seu modelo civilizacional está hipotecado aos créditos bancários dos que dominam a economia da produtividade, mesmo que em horizontes autoritários, estranhos ao vínculo transformador dos direitos humanos).

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Cecília Meireles

Repara na canção tardia
que timidamente se eleva,
num arrulho de noite fria.

O orvalho treme sobre a treva
e o sonho da noite procura
a voz que o vento abraça e leva.

Repara a canção tardia
que oferece a um mundo desfeito
sua flor de melancolia.

É tão triste, mas tão perfeito,
o movimento em que murmura,
como o do coração no peito.

Repara na canção tardia
que por sobre o teu nome, apenas,
desenha a sua melodia.

E nessas letras tão pequenas
o universo inteiro perdura.
E o tempo suspira na altura

por eternidades serenas.


Cecília Meireles, «Serenata», in Da Viagem (1939)
Imagem, in folhademinasgerais.blogspot.com

(Será destacada como o autor do mês nas Bibliotecas do Agrupamento durante o mês de Maio. Nos cento e doze anos do seu nascimento, uma simples evocação de uma das grandes poetisas do século XX).