terça-feira, 15 de outubro de 2013

No nascimento de Agustina

Há muitas coisas belas na terra, mas nada iguala a recordação de um dia de Verão que declina, e temos 11 anos e sabemos que o dia seguinte é fundamental para que os nossos desejos se cumpram. Quem conservar este sentimento pela vida fora está predestinado a um triunfo, talvez um tanto sedentário, mas que tem o seu reino no coração das pessoas". (1)

 Escritora criadora de figuras de uma dimensão muito peculiar tem-nos dado a voz de uma geografia física e humana capaz de compreender a relação doHomem com os mitos, o simbolismo dos seus valores. Criadora de palavras que nos conduzem onde se identificam os percursos da Humanidade, acima do contexto histórico, na procura de uma identidade que o é por si.
Retemos dela uma ideia de uma luz de quem caminhou ao contrário, da maturidade para a infância, de quem nos ensinou que a vida é demasiado importante para ser levada a sério e que por isso nada mais difícil do que o gesto grave, a dureza do caminho, para os que procuram um lugar de felicidade, de conquista de individualidade. Por isso as fórmulas rápidas e fáceis são inexpressivas de qualquer verdade, pois em cada ser há uma respiração diferente.

Nas suas obras, as mulheres de diferentes gerações revelam essa aspiração de humanidade, que condensam o que viveram, o que sonharam, em luta com o real sem se saber se se ousou o suficiente, se a afirmação foi suficiente para chegar a esse momento quase final em algo que se compreendeu. 

É uma das grandes figuras da cultura portuguesa deste século. Pela escrita, pelos temas, pelo humor e por aquele sorriso de quem já parece ter percebido o sentido das coisas e por isso sorri para o horizonte, como a criança acabada de nascer. Chama-se Agustina Bessa-Luís e faz hoje noventa anos. O final de sibila dá-nos essa dimensão de uma forma clara.

O mais veemente dos vencedores e o mendigo que se apoia num raio de sol para viver um dia mais, equivalem-se, não como valores de aptidões ou de razão, não talvez como sentido metafísico ou direito abstracto, mas pelo que em si é a atormentada continuidade do homem, o que, sem impulso, fica sob o coração, quase esperança sem nome.» (2)     

(1) Agustina Bessa-LuísAs Pessoas Felizes e (2) Sibila, Guimarães Editores

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