sábado, 19 de outubro de 2013

António Manuel Pina


"A beleza é o rosto mais jubiloso da verdade. Não da própria verdade, mas do seu rosto". (1)

Tinha uma paixão pelo Winnie the Pooh. Olhava para a literatura infantil como a possibilidade de reencontrar o olhar inicial, o que está pronto para a linguagem do mundo, ainda sem o conhecer. Revelou uma curiosidade para traçar pela poesia as grandes questões filosóficas de sempre inerentes à natureza humana.

Reflectiu sobre a sociedade em que viveu com liberdade, com inteligência e com criatividade. Deu-nos no JN um conjunto de crónicas sobre esse real que se sonha e que não se compreende pela ausência de uma real interrogação de figuras e instituições sobre  os valores básicos do que os gregos chamaram "Humanitas, , Libertas".

Foi um cronista que ousou utilizar as palavras para discutir "as verdades" que o establishent político gosta de enumerar como os pilares do universo, por onde interesses privados se alimentam da destruição mais básica dos valores de dignidade de tantos. 

E foi um poeta. Um poeta que nos descreveu como nos orientamos com os mitos, como respiramos o real, entre os lugares e as suas sombras, por onde tentamos reconhecer os gestos. E quando um poeta parte, perdemos um pouco do timbre da sua voz, ficando com a memória e o coração das palavras, onde o sorriso nos guardará desse "dragão feroz" (2) que é o próprio tempo.

(1) Entrevista a António Manuel Pina, in Jornal i, 18/02/21012 
(2) Ana Maria MatuteParaíso Inabitado

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