sexta-feira, 13 de junho de 2014

Pessoa ou o assombro contínuo

O meu olhar é nítido como um girassol. (...)
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do mundo...
Creio no Mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo ...
Eu não tenho filosofia, tenho sentidos...
Se falo da Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem por que ama, nem o que é amar... 
 
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...

Fernando Pessoa, Obras Completas
Imagem, in amybates.com

Sem comentários:

Enviar um comentário