terça-feira, 17 de junho de 2014

Nas Bibliotecas do 1º Ciclo


Fernando Pessoa disse-o com clareza, “as crianças são o melhor do mundo”, mas nem sempre nos lembramos com a devida intensidade da clareza do olhar, do espanto pela fantasia como se olha as possibilidades de cada caminho. A infância é um país distante, uma viagem de todos os possíveis, onde ainda se respira cada dia com a emoção da descoberta e onde o tempo e a sua voracidade ainda não se fazem sentir. E quando chegamos a adultos, tentamos recuperar instantes desses tempos mágicos, mas não é fácil chegar à compreensão do que se passa na cabeça das crianças, na sua psicologia. 

A infância é, pois um espaço de crescimento, uma viagem única. E é por aqui que passa o encanto dos alunos do 1º Ciclo. Com eles as actividades de aprendizagem fazem da escola um espaço de maior  afectividade de muito maior alcance que noutros níveis. Diferença que também notamos pelo entusiasmo pela leitura, por aquelas frases como “esse livro é muito infantil” e pela procura do espaço do livro e naturalmente da Biblioteca. Esquecemo-nos muitas vezes, que não é fácil ser estudante, da possibilidade de com os colegas resgatar os dias com as palavras antigas e estranhas dos poetas e artistas de tantos tempos. Reconhecimento de em cada aula, conseguirem reencarnar com interesse e motivação, figuras novas, representações da realidade, por vezes tão distante. É por esta descoberta das palavras novas, para rituais antigos que a educação e as escolas existem. 

É em cada palavra resgatada, em cada pensamento que nos preparámos para realmente construir qualquer ato significativo onde todos possamos Ser. A todos, com reconhecimento, os que nos lembram, o princípio dessa grandiosa, a mas difícil aventura que é crescer, representada neles, os estudantes, que pelos seus olhos inspiram horizontes, de onde também partimos, ainda ontem. E com eles entramos numa ideia diferente para em tempos de mudança percebemos o essencial, o que governos inteiros desconhecem, a gestão simples do sorriso e do esforço partilhado. O contacto com alunos muito jovens deu-me uma ideia diferente sobre essa realidade das escolas em idades tão pequenas. São um público exigente, mas igualmente fiel ao que lhe é dirigido, sem grandes hesitações. Vemos neles, aquilo que Sophia nos dizia, que “a tenra idade não significa infantilidade nas ideias.”

 Vi melhor, com mais realismo o que se percebe com dificuldade muitas vezes em conselhos pedagógicos sobre as dificuldades vividas no 1º Ciclo pelos professores e as infinitas incapacidades de organização de recursos que são diversos em função das autarquias e que são uma clara ineficiência de gestão das possibilidades de trabalho que se procuram desenvolver. Aprendemos mais. Aprendemos o que tantos governos, tanta “coragem” sublimada para mudar a educação não vê, a simplicidade ausente dos burocratas. É triste que a ideia mental burocrática, continue a dominar o sistema educativo, pois ela nada responde ao valor e à energia dos que querem aprender sobre um mundo que receberam, mas ao qual pretendem acrescentar um caminho de realização pessoal. 

Usamos muito como sistema educativo uma retórica do número, da percentagem, do carimbo e da estandartização. Trabalhamos pouco para a diferença, para uma linguagem de capacidades, que supere a rotina e que incentive a imaginação e o pensamento criativo. As paixões educativas de sucessivos governos não entendem o essencial destes traços de cor e beleza que se apresentam em páginas de sonhos. Picasso tinha absoluta razão, ao dizer que há em cada criança um artista, mas nós não o vemos, não o percebemos. Nas escolas / bibliotecas de 1º Ciclo percebe-se melhor esta dimensão. E, em final de ano lectivo, aquilo que move tanto esforço, deve ser destacado no essencial do que devia ser o sistema educativo). 

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