Fernando Pessoa disse-o com clareza, “as crianças são
o melhor do mundo”, mas nem sempre nos lembramos com a devida intensidade da
clareza do olhar, do espanto pela fantasia como se olha as possibilidades de
cada caminho. A infância é um país distante, uma viagem de todos os possíveis, onde ainda se respira cada dia com a emoção da
descoberta e onde o tempo e a sua voracidade ainda não se fazem sentir. E
quando chegamos a adultos, tentamos recuperar instantes desses tempos mágicos,
mas não é fácil chegar à compreensão do que se passa na cabeça das crianças, na
sua psicologia.
A infância é, pois um espaço de crescimento, uma viagem única.
E é por aqui que passa o encanto dos alunos do 1º Ciclo. Com eles as
actividades de aprendizagem fazem da escola um espaço de maior
afectividade de muito maior alcance que noutros níveis. Diferença que também
notamos pelo entusiasmo pela leitura, por aquelas frases como “esse livro é
muito infantil” e pela procura do espaço do livro e naturalmente da Biblioteca.
Esquecemo-nos muitas vezes, que não é fácil ser estudante, da possibilidade de
com os colegas resgatar os dias com as palavras antigas e estranhas dos poetas
e artistas de tantos tempos. Reconhecimento de em cada aula, conseguirem
reencarnar com interesse e motivação, figuras novas, representações da
realidade, por vezes tão distante. É por esta descoberta das palavras novas,
para rituais antigos que a educação e as escolas existem.
É em cada palavra
resgatada, em cada pensamento que nos preparámos para realmente construir
qualquer ato significativo onde todos possamos Ser. A todos, com
reconhecimento, os que nos lembram, o princípio dessa grandiosa, a mas difícil
aventura que é crescer, representada neles, os estudantes, que pelos seus olhos
inspiram horizontes, de onde também partimos, ainda ontem. E com eles entramos
numa ideia diferente para em tempos de mudança percebemos o essencial, o que
governos inteiros desconhecem, a gestão simples do sorriso e do esforço
partilhado. O contacto com alunos muito jovens deu-me uma ideia diferente
sobre essa realidade das escolas em idades tão pequenas. São um público
exigente, mas igualmente fiel ao que lhe é dirigido, sem grandes hesitações.
Vemos neles, aquilo que Sophia nos dizia, que “a tenra idade não significa
infantilidade nas ideias.”
Vi melhor, com mais realismo o que se percebe com
dificuldade muitas vezes em conselhos pedagógicos sobre as dificuldades vividas
no 1º Ciclo pelos professores e as infinitas incapacidades de organização de
recursos que são diversos em função das autarquias e que são uma clara
ineficiência de gestão das possibilidades de trabalho que se procuram
desenvolver. Aprendemos mais. Aprendemos o que tantos governos, tanta “coragem”
sublimada para mudar a educação não vê, a simplicidade ausente dos burocratas.
É triste que a ideia mental burocrática, continue a dominar o sistema
educativo, pois ela nada responde ao valor e à energia dos que querem aprender
sobre um mundo que receberam, mas ao qual pretendem acrescentar um caminho de
realização pessoal.
Usamos muito como sistema educativo uma retórica do número,
da percentagem, do carimbo e da estandartização. Trabalhamos pouco para a
diferença, para uma linguagem de capacidades, que supere a rotina e que
incentive a imaginação e o pensamento criativo. As paixões educativas de
sucessivos governos não entendem o essencial destes traços de cor e beleza que
se apresentam em páginas de sonhos. Picasso tinha absoluta razão, ao dizer que há em cada criança
um artista, mas nós não o vemos, não o percebemos. Nas escolas / bibliotecas de
1º Ciclo percebe-se melhor esta dimensão. E, em final de ano lectivo, aquilo
que move tanto esforço, deve ser destacado no essencial do que devia ser o
sistema educativo).
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